30/10/2009

Valdir Lima, outro nome do Maracanã

Se Chico Espina entrou para história ao substituir Valdomiro, no primeiro jogo da final, marcando dois gols, missão tão difícil também foi dada a outro jogador naquela partida. Valdir Lima, meio-campista, precisou substituir nada menos que Falcão, lesionado. Acabou dando o passe para o primeiro gol de Chico. Na entrevista ele fala sobre a pressão daquela partida e diz que até hoje por onde passa é lembrado por sua participação em 79. O jogador havia chegado ao Internacional para o Brasileiro após ser carrasco do Colorado no Gauchão, jogando pelo São Paulo de Rio Grande. É na cidade portuária, e sua cidade natal, que hoje o ex-jogador vive. Trabalha como supervisor técnico do tradicionalíssimo Rio Grande. A entrevista que publicamos quase que integralmente foi feita por telefone, na semana passada.

Como foi tua contratação pelo Internacional?

A minha contratação aconteceu após o campeonato gaúcho. Antes disso, eu estava há dois anos no Goiás, e aquele campeonato gaúcho eu vim disputar pelo São Paulo de Rio Grande. E foram três jogos com o Inter, onde a gente ganhou os três. E em dois deles eu fiz gol. Quando terminou o campeonato, a direção do Inter, através do Balvé e do Olavo dos Santos, me contratou.

Tu eras dono do teu passe.

Exatamente. Após esses dois anos no Goiás eu tive um problema renal, cálculos renais. Estava acabando meu contrato e eles acabaram não renovando e eu fiquei com o passe livre. Eu vim embora para o Sul. Mas o passe era meu. Aí eu aluguei para o Inter por três meses. E foi renovado logo após aquele jogo no Maracanã com o Vasco que o Falcão não jogou. E a gente decidiu o título lá.

Como foi substituir o Falcão?

Olha, foi muito bom. Claro que é uma responsabilidade muito grande. Em todos os jornais, eu acabei virando o substituto de Falcão. O Ênio Andrade gostava muito de mim. Para vocês verem como é o caráter do Falcão, de manhã ele ligou para o hotel lá no Rio, perguntou como eu tava, e disse para eu jogar como eu costumava treinar. Realmente, nunca tive esse problema. Eu sempre tive frio na barriga antes do jogo. Quando eu botava os pés no gramado, eu só pensava em jogar.

O Falcão nos contou que antes da partida ele pediu que a diretoria falasse renovasse, pelo menos verbalmente, contigo e com o Chico. Como foi isso?

Exatamente, para vocês verem como era o Falcão, que realmente era um líder do nosso grupo. Deu mais tranqüilidade. E também tinha os dois lados, por que o meu contrato estava acabando depois daquele jogo do Rio. Se eu fosse bem, como fui, o Internacional poderia perder o jogador. Tanto é que houve grande interesse do Flamengo em mim e no Chico Espina, e nós chegamos a ser negociados com o Flamengo. Nós íamos para lá e viria o Leandro, só que ele não passou no exame médico. Foi avaliado pelo departamento que tanto ele poderia jogar dez anos, como poderia logo ali adiante não conseguir jogar. E acho que o Inter não quis assumir essa responsabilidade. Na época, a gente perdeu essa oportunidade de jogar num clube também grande e ser titular, por que no Internacional, por mais que eu pudesse jogar, teria que tomar o lugar do Falcão.

Como o Ênio fazia para deixar os jogadores reservas motivados durante a campanha?

Ele conversava com cada um. Ele sabia valorizar o atleta que chegava num clube grande. O Ênio para mim foi o maior treinador com quem eu trabalhei, e olha que eu passei por grandes treinadores, joguei no Rio, São Paulo, Curitiba, Recife. O Ênio jamais dava um grito com os jogadores. No treino, ele vinha caminhando, encostava do lado e dizia: ‘Valdir, tu ta muito aberto, fecha mais um pouco’. Era só isso. E a gente já ia fazer. Era um treinador realmente diferenciado. E isso valeu muito naquela campanha do tricampeonato, como também valeu muito o Gilberto Tim. Ele também era muito competente.

Tu poderias nos dizer por quais clubes tu passaste na carreira?

Eu comecei em Rio Grande, no São Paulo, em 69. Depois eu fui comprado pelo Esportivo de Bento, onde joguei em 75 e 76. Fui campeão do Interior, a equipe que vinha logo após a dupla Grenal no campeonato gaúcho. Dali, o Goiás comprou meu passe, e fiquei lá em 77 e 78. Voltei ao São Paulo e aí fui para o Inter. Depois fui emprestado ao América do Rio, em 80, na época jogava até o centro-avante Luisinho. Dali fui para o Náutico. Depois fui emprestado à Inter de Limeira. Voltei ao Inter no final de 82. O treinador na época me liberou e eu fui para o Coritiba, treinado pelo Paulo Sérgio Poletto. E aí já estava com 32, 33 anos. E naquela época, as equipes grandes já não compravam jogador com aquela idade. Então eu acabei pensando assim, bom se eu não vou mais jogar em time grande, vou parar numa boa.

Tu tinhas 27 anos em 79?

Vinte e seis. Na época não tinha intercâmbio que tem hoje. Eu vejo meninos de 14, 15 que chegam nas equipes grandes. Eu fui chegar no Inter tarde. Talvez se eu chegasse com dezoito, dezenove anos, como chegaram o Falcão e outros tantos. Mas mesmo assim, a minha carreira foi muito boa. Esse tricampeonato até hoje, em qualquer lugar que a gente vai com o Esporte Clube Rio Grande, sempre tem gente nos procurando no hotel, querendo saber daquele jogo no Rio.

Quais as tuas características dentro de campo?

Eu era um meia como talvez hoje até não tenha. Não só eu, como outros jogadores da época. Eu era do tipo cadenciado, de toque de bola. Uma técnica que eu considerava muito boa. Eu costumava errar no máximo dois, três passes por jogo. Às vezes eu me cobrava quando chegava em casa, minha esposa dizia: “Pô, tu foste elogiado”. E eu falava, “fiquei insatisfeito, errei cinco passes”. Os jogadores hoje o que erram de passe é um absurdo. Na época que eu joguei era muito mais valorizada a parte técnica. Hoje, primeiro vão ver a altura, a força, a velocidade. Então, tu tens um monte de jogadores que quando vem uma bola mais forte, ela dá na canela. Eu era mais de dar assistência que de fazer gols.

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